PROCURO-TE
Procuro-te no sopro do vento.
Ainda hoje me pergunto como foi possível ter-te perdido. Questiono ao universo porque te levou. Porquê naquele dia, naquela hora, quando tanto ainda havia para viver.
Recordo com saudade o sorriso do teu rosto esvoaçante, ao mesmo tempo que te vejo pintada no azul do céu, enquanto me atiras um beijo. Oiço-te sussurrar ao meu ouvido, quando o frio da noite invade a minha almofada.
O agosto outrora quente, pintou-se em tons de cinza desde a noite em que partiste. E sempre que o agosto se aproxima, o vazio que deixaste adensa-se, no cheiro do alcatrão negro, no brilho das luzes que te levaram.
Imagino como serias hoje. Aqui, comigo. Deste lado da passagem.
Como não te pude salvar? Perdoa-me. Perdoa-me por não te ter conseguido ajudar. Encerro em mim a mágoa por não ter segurado a tua mão. A tua vida. Não ter podido evitar a tua partida. E como dói.
Os desígnios da vida são superiores ao que podemos alcançar, e se a tua partida teve um propósito, hoje sei que não pode haver melhor anjo no céu. Assim como na Terra o foste.