Quando (só) o amor não basta!

“Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente”.

Quantas vezes as palavras de Camões fizeram eco no coração apaixonado. No coração arrebatado pelo tal fogo que arde, mas não se vê. A tal ferida que, mesmo doendo, não se sente.

O amor dói e sente-se. Dói o amor sem correspondência. Dói o amor platónico. Dói o amor de mãe. Dói o amor próprio.

Nem sempre é contentamento, por vezes desatina e prende-se na vontade de se perder.

Mas será o amor uma espécie de amarra, um apego desmesurado, que arrebata, suga e faz esquecer, perdoar, aceitar, anular, desejar apenas o outro e mais ninguém? Será que o “amor e uma cabana” é tudo quanto baste e nos faz perder a capacidade de sonhar?

Se amar é limitar então é melhor escolher não amar? Ou será que amar é sinónimo de apegar?

Amar e apegar são conceitos díspares, confundidos muitas vezes na incerteza do coração.

O amor sonha, apoia, arrebata, transcende.

O apego agarra, boqueia, projeta no outro a vontade de amar.

Quem ama liberta, segura, dá a mão, não deixa cair.

Quem se apega não quer ser libertado. Deseja a segurança de uma mão, ainda que ténue seja a linha que as une.

Por vezes, não basta amar, é preciso deixar voar. Acreditar no outro, nas suas capacidades. Olhar nos seus olhos, enxugar as suas lágrimas e, quando o mundo todo parecer ruir, suportá-lo no seu abraço.

Parar. Respirar. Olhar para si mesmo. Escutar o que diz o coração. Perceber, tal como na canção, se “muito mais é o que nos une, do que aquilo que nos separa”. Mesmo quando o amor é um elo forte, só ele bastará para unir o que é melhor separar? Será ele a (única) força motriz que nos move, impele e orienta?

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