Halloween ou Pão por Deus?

Teias de aranha, bruxas, vassouras e chapéus, abóboras vestidas de lanternas, gatos pretos e muito mais tomam de assalto as montras das lojas de norte a sul do país, para gáudio de miúdos e graúdos. Por todo o lado, pululam bruxas, vampiros, fantasmas, zombies, vestidos e maquilhados a rigor.

O Halloween celebra-se a 31 de outubro e com ele a questão: qual a origem do mí(s)tico Dia das Bruxas? Talvez muitos desconheçam a tradição, limitando-se a celebrá-lo, pese embora a misticidade do tema, que aguça os sentidos.

Acredita-se que a celebração do Halloween tem duas origens, misturadas ao longo da história. A origem pagã remete para a celebração celta da colheita, o Samhain, cujo acontecimento marcava o fim do verão e era precedido de festejos durante uma semana, dando origem ao novo ano celta. Fazia-se o culto aos mortos e à deusa celta, símbolo antigo da perfeição.

A origem cristã (mais fortemente defendida) diz que o termo Halloween, que remonta a 1745, é uma contração do termo escocês All Hallow’s Eve, ou seja, Vigília de Todos os Santos, cuja evolução levou às formas All Hallowed Eve e All Hallow Een até chegar à palavra atual. Esta celebração fazia-se na véspera do Dia de Todos os Santos, com a vigília, dedicada a lembrar todos os santos, mártires e fiéis falecidos.

Atualmente, os festejos de Halloween diferem das proclamadas origens. Em comum, resta apenas a alusão aos mortos, com caráter distinto. Aos costumes enraizados acrescem-se os disfarces, popularizados desde o século XV em França quando, entre os católicos, cresceu um grande temor e preocupação com a morte, associado ao flagelo da peste negra.

A tradição do “doce ou travessura” associada às celebrações originou-se na Idade Média, com as crianças a ir pelas portas pedir o “bolo das almas” (souling, na versão original). Também este costume evoluiu e hoje os mais pequenos vão de porta em porta pedir doces, sob ameaça de quem não contribuir, receber uma travessura (trick or treat).

Em Portugal, à semelhança do resto do mundo, as celebrações de Halloween ganharam força, em detrimento do Pão por Deus, hoje festejado apenas em algumas vilas e cidades.

O Pão por Deus é uma tradição antiga, com raízes semelhantes ao Halloween. Em Portugal, é a forma mais costumada de se pedir doces. As crianças vão de porta em porta, em grupos, pedir aos vizinhos as iguarias, depositadas em sacos de retalhos. Este peditório realiza-se no dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos.

Admite-se que esta tradição remonte ao século XV quando, neste dia, se repartiam alimentos pelos mais pobres, ritual relacionado com o culto aos mortos – peditório pelas almas. O terramoto de 1 de novembro de 1755 fez este hábito ganhar mais força derivado à fome e miséria que se faziam sentir, quando muitos pedintes, em desespero, pediam “Pão, por Deus”.

A tradição sofreu alterações e as crianças que batem pelas portas recebem bolinhos, guloseimas e até dinheiro.

Neste dia que o calendário mostra de celebração e em que os festejos se replicam um pouco por todo o país, com mais ou menos rigor, importa receber com alegria as pequenas mãos estendidas que batem nas portas, aludindo ao “doce ou travessura”. Mais que os doces depositados numa bolsinha de pano, mais que o Halloween ou o Pão por Deus, importa resgatar às crianças a confiança de bater a uma porta, interagir com os mais velhos, renovar a esperança numa aproximação perdida.

E que todos eles, novos e velhos, possam recuperar o doce ou um sorriso… 

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