A importância dos livros na minha vida

Contam as memórias que era a folhear as páginas de um grande livro sobre a China que esgotava os meus tempos de meninice.

Conta a minha mãe que lhe arranquei as páginas, tantas eram as voltas que estas davam nas minhas pequenas mãos.

Ao mesmo tempo do “folheanço”, a imaginação corria, livre, leve e solta, ao ritmo a que as imagens se me apresentavam diante do olhar curioso. Milhentas histórias contei a amigos cujo rosto se esbatia na inocência da idade.

As lembranças balanceiam nesta noite estival e levam-me de volta aos seis, sete anos. Viagens de carro e muitas placas toponímicas para ler. Absorvia-as todas. Recordo a curiosidade, e a graça, que me suscitavam os nomes de terras por onde passava. E de arranjar uma explicação para todos eles.

Depois chegaram as coleções, que a minha mãe adquiria avidamente. Pese embora nunca a tenha visto com um livro na mão, fazia questão de mos comprar. A Anita e a Rua Sésamo encabeçavam o topo das preferências. Ainda resistem alguns, na prateleira das emoções da infância.

Aos nove anos, um presente inesperado levou-me até à coleção Uma Aventura. Não demorou uma semana a ser “devorado”. A cada ida a uma papelaria, mais um livrinho adicionado à estante.

Cresci rodeada de livros, muitas vezes o escape numa era em que o bullying ainda não era um termo preocupante. Fechada na concha, escondi o “patinho feio” existente em mim entre as folhas dos muitos contos de fadas que lia. Imaginava-me como elas, as princesas, que um dia um príncipe resgataria no seu cavalo branco. Troquei a beleza pela inteligência, o real pela fantasia, a verdade pela ilusão.

Vivi nas histórias que lia, acompanhada dos personagens que povoavam a minha vida. Perdida nas emoções das protagonistas, tomava-lhe as dores, idealizava estar no seu papel, sofrer as suas mágoas e, não raras vezes, ter a coragem e rebeldia que demonstravam. A Ana passou-se, foi um dos livros que marcou o auge dos meus doze anos e a entrada numa adolescência solitária e desabrigada.

Não há memória que traga os meus pais a ler. Não há memória que registe as histórias infantis contadas ao adormecer. Não há colo que aconchegasse um livro partilhado. O caminho percorrido na leitura foi só, entregue às fantasias.

Anterior
Anterior

Halloween ou Pão por Deus?